segunda-feira, 23 de junho de 2014

Deus deseja que todos sejam salvos?



DEUS DESEJA QUE TODOS OS HOMENS SEJAM SALVOS E CHEGUEM AO CONHECIMENTO DA VERDADE.

Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.

1 Timóteo 2:1-4

Por que creio que Deus deseja salvar todos os homens?

Pelos seguintes motivos:

1. O autor ordenou a orar por todos os homens (v. 1).
2. O autor revelou o desejo de Deus salvar todos os homens (v. 4).
3. O autor afirmou que Cristo é o mediador entre Deus e os homens (v. 5).
4. O autor disse que Cristo se entregou como resgate por todos (v. 6).

Embora sejam motivos simples e suficientes baseados no contexto da passagem, algumas pessoas podem achar que são insuficientes para chegar a esta conclusão. 

Sendo assim, para reforçar ainda mais a minha conclusão sobre esta passagem, apresentarei abaixo vário comentários de grandes teólogos da atualidade onde os mesmos apresentam suas interpretações do texto bíblico acima citado.

Achei interessante o comentário de Norman Geisler sobre esta passagem bíblica. Vejamos:

Até mesmo Charles Spurgeon (1834-1892), que cria na expiação limitada,
considerava difícil negar o significado claro de 1 Timóteo 2.3,4. Todavia, esta passagem foi bastante descaracterizada pelos ultracalvinistas, que seguem o pensamento do “Agostinho posterior.” Spurgeon resumiu a tentativa daqueles ultracalvinistas de evitar o óbvio:

[Vejam como] os nossos amigos calvinistas mais velhos tratam esta passagem. “Todos os homens,” dizem eles, “significa, alguns homens”: como se o Espírito Santo não pudesse ter dito “alguns homens” caso a sua intenção tivesse mesmo sido esta. “Todos os homens,” dizem eles, significa “todos os tipos de homens”: como se o Senhor não pudesse ter dito “todos os tipos de homens,” se essa também fosse a sua real Intenção. O Espírito Santo, por intermédio do apóstolo, escreveu “todos os homens,” e, indubitavelmente, quis dizer “todos os homens” (“CT” conforme citação feita por Iain Murray, SHC, 150).

Spurgeon ainda acrescentou:

"Eu acabei de ler a exposição de um doutor muito sagaz que explica o texto de forma a dissuadir o seu real significado: ele coloca dentro do texto pólvora gramatical, e o explode para que, só então, possa explicá-lo. Ao ler esta exposição, pensei que, quem sabe, a passagem não ficaria melhor se dissesse claramente: 'E, afinal de contas, quem quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade?' (in
ibid., 151).

Obviamente, o problema é que isto é o que o texto deveria dizer se a expiação limitada fosse real — mas este não é o caso. Spurgeon estava ciente da sua aparente inconsistência neste ponto, ao dizer: “Não sei como aquilo se enquadra com isto,” e ainda: “Prefiro cem vezes mais parecer inconsistente comigo mesmo, do que parecer inconsistente com a
Palavra de Deus.”

Fonte: Teologia Sistemática de Norman Geisler

Como podemos ver, até o calvinista Spurgeon enxerga a exegese equivocada de alguns calvinistas e aceita a ideia do autor sagrado de que Deus quer salvar a todos.

Particularmente eu tenho um respeito muito grande pelos calvinistas. Por conseguinte, respeito as suas interpretações de determinados textos das Escrituras dos quais o texto apresentado acima eu discordo. Não entendo que os mesmos falem ou ensinem com a intenção de enganar, mas, por uma questão de harmonizar o texto bíblico citado acima a um corpo doutrinário no qual eles creem, e que com base em certos textos bíblicos eles entendem esta passagem de forma diferente. Posto isto, quero aproveitar e colocar mais um comentário que vai colaborar ainda mais com a minha afirmação com base no texto bíblico mencionado: "Concluindo, o que dizer de 1 Timóteo 2.4, que diz que Deus quer que “todos os homens” sejam salvos e onde o grego não pode ser interpretado de nenhuma outra forma a não ser como se referindo a cada pessoa sem exceção? Afinal de contas, a mesma palavra grega para “todos” é utilizada em 2 Timóteo 3.16 para dizer que “toda” a Escritura é inspirada. Se a palavra não significar literalmente “todos” em 1 Timóteo 2.4, então ela também não significa “toda” em 2 Timóteo 3.16 (“toda a Escritura é inspirada”). 1 Timóteo 2.4 (que não está sozinho em universalizar a vontade de Deus pela salvação, mas está, pelo menos, aberta à qualquer outra interpretação) permanece lado a lado de João 3.16 como um texto prova contra a eleição incondicional, que, exceto no caso do universalismo, necessariamente inclui a reprovação. (Dr. Roger Olson).

Segue alguns comentários que achei relevantes sobre o texto sagrado aqui apresentado: 

"O fato de orarmos por todos os homens, incluindo reis e autoridades, é bom por si só e aceitável diante de Deus, nosso Salvador. O título que Paulo confere a Deus é significativo. O desejo de Deus é a salvação de todos os homens. Portanto, orar por todos os homens é promover a vontade de Deus... Devemos, portanto, orar por todos os homens em todos os lugares". (William MacDonald). 

"... o desejo de Deus é que todas as pessoas sejam salvas, e Ele forneceu, em Cristo o caminho para a salvação". (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal). 

Um outro cometário equilibrado e coerente sobre este texto foi de Matthew Henry que disse: 

"Como uma razão por que deveríamos nos preocupar em nossas orações com todos os homens, ele mostra o amor de Deus à humanidade em geral (v.4). Uma das razões de orarmos por todos os homens é que há um só Deus, e esse Deus tem uma boa vontade por toda a humanidade. Há um só Deus (v.5); não há outro, não pode haver outro, porque somente pode haver um infinito. Esse único Deus quer que todos os homens se salvem; Ele não deseja a morte e destruição de ninguém (Ez. 33.11), mas o bem-estar e salvação de todos. Não que ele tenha decretado a salvação de todos, porque então todos os homens seriam salvos; mas Ele tem uma boa vontade para a salvação de todos, e ninguém perece senão pela sua própria culpa (Mt. 23.37)". 

Um outro comentário digno de ser citado aqui é o Novo Comentário Bíblico Novo Testamento que diz sobre esta passagem bíblica: 

"Que quer que todos os homens se salvem não significa que Deus quer que todos, mesmo os persistentes na impiedade, recebam indiscriminadamente a salvação. Em outra passagem, Paulo nos ensina claramente que somente os que creem em Cristo a receberão (Rm. 1.16,17; 3.21-26; 5.17). Isso também é o que Jesus ensina (Jo. 3.15-18). Portanto, não é a vontade definitiva de Deus, por meio da qual Ele governa de forma soberana o mundo, a salvação sem seleção. O que Paulo está dizendo aqui é que O DEUS SALVADOR ESTENDE SUA OFERTA DE SALVAÇÃO A TODOS. Por isso, Cristo morreu pelos pecados de TODOS, mas somente os que CREEM recebem o benefício desse sacrifício (Jo. 3.16; 2 Co. 5.14,15)".

Como podemos perceber nos comentários expostos aqui e outros que colocarei posteriormente, confirmam a ideia que realmente Deus deseja que todos sejam salvos, isto é, que Deus estendeu a salvação a todos os homens, porém, a salvação é aplicada sobre aqueles que creem em Cristo.

Ainda sobre o texto bíblica acima J.N.D. Kelly (Introdução e Comentário Série Cultura Cristã) comenta: "No decurso da historia cristã esta frase tem provocado intenso esquadrinhar do coração e controvérsia. Como a vontade de Deus no sentido de salvar todos pode ser reconciliada com (a) a crença quase universal que nem todos na realidade são salvos, e (b) o ensino acerca da predestinação exposta pelo próprio Apóstolo noutros lugares (e.g. Rm. 9)? O que fica claro acima de tudo é que todas as qualificações sutis que foram propostas (e.g. de Tertuliano que TODOS significa "TODOS QUANTOS ELE ADOTOU", e a de Agostinho, que denota "TODOS OS PREDESTINADOS, PORQUE TODOS OS TIPOS DA HUMANIDADE ESTÃO ENTRE ELES") são artificiais e fora de lugar... Sobre (1 Tm. 2.6) Kelly comenta: As palavras importantes para ele (Paulo) eram POR TODOS; é o fato de que Cristo morreu por todos os homens, sem qualquer tipo de favoritismo, que torna obrigatório para os cristãos orar por todos eles sem distinção. Kelly continua seu comentário dizendo o seguinte: O que Paulo está dizendo é que, ao morre por toda a humanidade de acordo com o plano divino, Cristo deu testemunho esmagadoramente convincente ao desejo de Deus pela salvação de todos os homens. Sobre (1 Tm. 2.7) o mesmo diz: Como argumento final, Paulo apela ao seu próprio papel especial na propagação do evangelho. PARA ISTO, exclama ele, i.é, a fim de espalhar em todos os lugares exatamente este testemunho, declarando em Jesus Cristo, da vontade UNIVERSAL DE DEUS NO SENTIDO DE SALVAR... O fato de que o próprio Deus o escolheu para pregar o evangelho aos gentios, i.é, o mundo gentio e não somente aos judeus, é prova definitiva do desejo de Deus no sentido de salvar todos os homens, e, portanto, a obrigação de orar por todos eles. Como podemos ver, Kelly também entende que é a vontade de Deus salvar todos os homens.

Gostaria também de expor o comentário de Calvino sobre este texto para analisarmos o mesmo: "Concluindo, ele demonstra que Deus tem no coração a salvação de todos os homens, porquanto ele chama a todos os homens para o conhecimento de sua verdade... pois a intenção do apóstolo, aqui, é simplesmente dizer que nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o evangelho a todos sem exceção. Visto que a pregação do evangelho traz vida, o apóstolo corretamente conclui que Deus considera a todos os homens como sendo igualmente dignos de participar da salvação. Ele, porém, está falando de classes, e não de indivíduos; e sua única preocupação é incluir em seu número príncipes e nações estrangeiras". (Comentários das Pastorais de Calvino). Podemos entender que para Calvino "todos" significa "nação da terra", "classe social", "príncipes", "nações estrangeiras". Para ele o apóstolo não está falando de indivíduos. Neste caso, a respeito deste texto eu não posso concordar com a exegese de Calvino. Pois no texto e no contexto o autor não apresentou a ideia de que Deus quer salvar "classe social", "nação da terra", "príncipes", "nações estrangeiras", e sim que Deus quer salvar a "TODOS OS HOMENS". Se o contexto não tivesse "Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por TODOS OS HOMENS (1 Timóteo 2:1), "Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e OS HOMENS: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por TODOS (1 Timóteo 2:5-6), eu até concordaria com ele. Antes de Paulo incluir na listar de oração reis e autoridades, ele incluiu TODOS OS HOMENS (v. 1). No meu entender Calvino interpretou este texto com base em outros textos bíblicos, e não especificamente sobre este texto. Acredito como já vimos acima até Spurgeon não concordaria com esta interpretação, pois neste caso o que impediu o autor sagrado de colocar as expressões "classes social", "nações estrangeiras" e "príncipes" em vez de "todos"? 

Um dos grandes exegetas da atualidade I. Howard Marshall, considerado por muitos anos uma das mais importantes referências evangélicas no que diz respeito à exegese e à teologia bíblica do NT fez o seguinte comentário sobre esta passagem: 

"A atenção é desviada das controvérsias que estão deteriorando a vida da congregação e dirigida à atividade positiva que precisa ser recomendada, isto é, a oração intercessora POR TODAS AS PESSOAS e especificamente por condições pacíficas, para que tais pessoas possam ouvir o evangelho. A instrução é amparada por uma declaração doutrinal que enfatiza o desejo de Deus de que TODAS AS PESSOAS SEJAM SALVAS, o Cristo que se deu como resgate POR TODOS e a existência de um testemunho sobre isso, para o qual Paulo foi designado mensageiro. (Teologia do Novo Testamento - I. Howard Marshall). Fica claro que para Marshall "todos" significa "todas as pessoas" e não "classe social" ou "nação estrangeira".


Vale a pena expor aqui o comentário de Roy B. Zuck sobre esta passagem: 

"O tema da salvação domina todo o contexto de (1 Tm. 2.1-7). Nesses versículos, a oração, o título, a vontade de Deus e a obra de Cristo apoiam o interesse universal pela salvação. O termo "testemunho", que conclui essa seção, demonstra a natureza tradicional, ou litúrgica, dessa passagem. A passagem tem ênfase tripla em "TODOS OS HOMENS", conforme se observa na oração a ser feita, na vontade de Deus e na redenção provida por Cristo (1 Tm. 2.1,4,6). É bem possível também que Paulo use a expressão "todos os homens" para se opor ao elitismo espiritual dos falsos mestres. O uso do termo "um" para Deus e para Cristo, o Mediador, emerge como mais uma evidência contra o ensinamento dos apóstatas. Judeus e gentios estão igualmente relacionados a Deus por meio da obra de Cristo. O aspecto inclusivo de "TODOS OS HOMENS" é contrabalançado pelo caráter exclusivo de "um" e único caminho para ser reconciliado com Deus (Jo. 14.6). "O Deus UNIVERSALMENTE acessível proveu um Mediador igualmente acessível". A salvação origina-se na vontade de Deus que "quer que TODOS OS HOMENS SE SALVEM E VENHAM AO CONHECIMENTO DE VERDADE" (1 Tm. 2.4; cf. 2 Tm. 1.9; Tt. 1.2; Gl. 1.4; Ef. 1.5,9). A morte vicária de Cristo é o meio pelo qual Ele executa seu papel como único Mediador entre Deus e a HUMANIDADE (1 Tm. 2.5). (Teologia do Novo Testamento de Roy B. Zuck). 

Mais um teólogo respeitado entende pelo contexto que Deus quer que todos sejam salvos.

Posto isto, concluo que DEUS QUER QUE TODOS SEJAM SALVOS.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O cristão perde a salvação ao cometer suicídio?



Hoje eu li um artigo da Fiel com o tema "Ao Cometer Suicídio, o Cristão Perde a Salvação?"

Segue abaixo o texto do artigo e logo em seguida exponho o que penso sobre o artigo e sobre o tema.


Ao Cometer Suicídio, o Cristão Perde a Salvação?

Miguel Núñez20 de Janeiro de 2014 - Vida Cristã
Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que lamentavelmente muitos têm respondido de uma maneira emocional e não através da análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no catolicismo sempre ouvimos que o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa para o inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível despojar-se dessa ideia.
Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão seria capaz de acabar com sua própria vida. Há outros que afirmam que um cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação. E ainda outros pensam que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que isso o conduza à condenação.
Em essência temos, então, quatro posições:

  1. Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno (posição Católica Tradicional).
  2. Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.
  3. Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.
  4. Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação.

A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da Reforma, quando a doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor estudada e entendida. Nesse momento, tanto Lutero como Calvino concluíram que eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia cometer suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a salvação das almas foi sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores começaram a fazer conclusões, de maneira distinta, sobre a posição que a Igreja de Roma tinha até então.
No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?
Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a partir da revelação de Deus:

  • O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista). Com isso, não queremos dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser, mas que todas as suas capacidades estão manchadas pelo pecado: sua mente ou intelecto, seu coração ou emoções, e sua vontade.
  • O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à permanência da natureza carnal, continua com a capacidade de cometer qualquer pecado, com a exceção do pecado imperdoável.
  • O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens, e a partir desse contexto podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição contínua da ação do Espírito Santo na conversão do homem. Outros, a partir dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus. Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa incrédula.
  • De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.
  • O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18)
  • O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado na cruz, onde Cristo nos justificou, e fomos declarados justos sem de fato sermos, e o fez como uma só ação que não necessita ser repetida no futuro. Na cruz, Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26, Romanos 8:29-30)

A salvação e o ato do suicídio
Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos, denominados Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da salvação. Uma dessas diferenças, que não é a única, gira em torno da possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria nesse grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do crente. Nós, que afirmamos a segurança eterna do crente (Perseverança dos Santos), não somos daqueles que acreditam que o suicídio ou qualquer outro pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.
Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição. Alguns, sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há nenhum suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de personagens não crentes que acabaram com suas vidas. Com relação a essa observação, gostaria de dizer que usar isso para estabelecer que um cristão não pode cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso de um argumento de silêncio, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias coisas não mencionadas na Bíblia (centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso de argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de estabelecer possíveis verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha capacidade para rir. Seria esse um argumento sólido? Obviamente não.
Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar antes de ir mais além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação, ou se sua vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que, provavelmente, esse seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.
Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus permitir acontecer pode representar parte da disciplina de Deus, por esse cristão não ter feito uso dos meios da graça dentro do corpo de Cristo, proporcionados por Deus para a ajuda de seus filhos.
Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no último momento não proveu oportunidade para o arrependimento, e é isso o que termina roubando-lhe a salvação ao suicidar-se. Eu quero que o leitor faça uma pausa nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse exato momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa pergunta é evidente: Não! Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum instante em nossas vidas em que o ser humano está completamente livre do pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas que nesse momento não temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão, simplesmente porque o consideramos um pecado menos grave, ou porque estamos esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.
A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos pecados passados, presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o mesmo sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. A Palavra de Deus é clara em Romanos 8:38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Note que o texto diz que “nenhuma outra coisa criada”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos também que essa passagem fala que “nem as coisas do presente, nem do porvir”, fazendo referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro lado, João 10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso Pai, e Filipenses 1:6 diz que “aquele que começou a boa obra em vós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Concluindo:

  • Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que não conceber que potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?
  • Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele não cobriria esse outro pecado?
  • Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de Hebreus (7:28, 10:14), não seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum pecado rouba a nossa salvação?
  • Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão que o povo exerceu sobre ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na condição de depressão extrema, que não tenha a força de caráter de um Moisés, atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?
  • Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão interior do ser humano, poderíamos afirmar categoricamente que alguém que deu testemunho de cristão durante sua vida, ao cometer suicídio, realmente não era um cristão?
  • Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos concluir que o suicídio entre crentes provavelmente é uma ocorrência extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos meios de graça presentes no corpo de Cristo.
  • Pensamos que o suicídio é um pecado grave, porque atenta contra a vida humana. Mas já estabelecemos que um crente é capaz de eliminar a vida humana, como o fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém, como não conceber que posso fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.

Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o suicídio e a salvação. Tudo o que podemos fazer é raciocinar através de verdades teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar a uma provável conclusão sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Portanto, quanto mais coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão que eu chegar. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Minha recomendação é que você possa fazer um estudo exaustivo, outra vez ou pela primeira vez, acerca de tudo o que Deus disse sobre a salvação, que é muito mais importante que o suicídio, que é quase nada.

Gostaria de externa agora a minha opinião sobre este assunto tão controverso. 

1. O autor do artigo inicia o seu pensamento expondo com base na segurança do crente (Perseverança dos Santos), que o suicídio ou qualquer outro pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.

Refutação: Onde está escrito na Escritura que um crente não perde a salvação? Se existem textos bíblicos que falam sobre a segurança do crente, também existem textos bíblicos que falam da possibilidade do crente perder a sua salvação, por exemplo: Ora para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública”. Hebreus 6:4-6
Os calvinistas, os quais eu respeito muito, entendem que este texto não fala sobre os verdadeiros crentes, o que discordo pelas seguintes razões: 1. A carta foi escrita para os hebreus crentes. 2. As experiências que o autor sagrado apresenta só um cristão pode ter. 3. O autor fala de pessoas que foram iluminadas neste capítulo, porém no capítulo dez ele afirma que os seus leitores também foram iluminados, "Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados, quando suportaram muita luta e muito sofrimento". Hebreus 10:32. Logo, eu entendo que se os leitores foram iluminados e a carta foi dirigida aos crentes, não posso entender que os iluminados de Hebreus 6 não sejam cristãos de verdade, se os cristãos de verdade foram iluminados em Hebreus 10. 4. O autor também diz que é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento. Ora, se é impossível que sejam RECONDUZIDOS ao arrependimento é porque foram conduzidos. Quem é conduzido ao arrependimento é crente. 5. O autor diz: "pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus". Quem pode crucificar de NOVO o Filho de Deus, o cristão ou o perdido? Portanto, eu entendo que Hebreus 6 e 10 foram escritos para os crentes, até porque não haveria sentido o autor escrever uma carta para os crentes e exortá-los a continuarem na fé, se não fosse possível ocorrer o contrário. Por que o autor adverte os crentes a permanecerem na fé se isso é desnecessário, uma vez que o crente vai permanecer na fé de qualquer jeito? A advertência do autor pressupõe a possibilidade do abandono da fé, razão pela qual ele adverte os crentes sobre a incredulidade, "Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo". Hebreus 3:12

2. O autor do artigo disse: "Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição".

Refutação: Se não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para apoiar essa posição, também não há em nenhum texto bíblico que afirme que se um crente cometer suicídio não perderá a salvação. Aliás, não há um texto bíblico se quer permitindo um crente tira a sua própria vida. Se para o autor deste artigo não ter um texto bíblico que diga que um cristão jamais cometerá suicídio, também não tem nenhum texto que diz que o cristão cometerá.

3. O autor deste artigo disse: "Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida".

Refutação: 1. Jó, Moisés, Elias e Jeremias desejaram morrer, mas não tiraram as suas vidas. 2. Todos os cristãos foram chamados por Deus, afinal de contas não é isso que Romanos 8 diz que tanto os calvinistas usam: Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou.
Romanos 8:29-30. Como podemos ver, todos os crentes foram CHAMADOS. Penso eu que todos os crentes não só foram chamados, como cada um tem um ministério a exercer no Corpo de Cristo, tanto que somos chamados de sacerdócio real em 1 Pe. 2.9. 3. Como um cristão não tem um caráter forte se Paulo diz: "Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. 2 Timóteo 1:7? Além disso, Paulo diz: Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”. Gálatas 5:22-23. Como que um cristão cheio do Espirito Santo que lhe dá domínio próprio vai tirar a sua própria vida? Eu penso que os crentes de hoje tem privilégios muito maiores do que os profetas do Antigo Testamento, ou não?. Este argumento que o autor usa para justificar que um crente que não tem chamado e não tem caráter forte não tem base bíblica e não justifica o suicídio de um crente.

4. O autor deste artigo usou Romanos 8.38,39; Jo. 10.27-29; Fp. 1.6 para dizer que mesmo que um crente pratique o suicídio não perderá a salvação.

Refutação: Os textos bíblicos apresentados pelo autor não falam sobre o suicídio, permitem o suicídio de um crente, ou afirmam que se um crente cometer suicídio não perderá salvação. Usar estes textos para garantir que se um crente tirar a vida não perderá a salvação é um erro infantil de interpretação bíblica.

5. O auto deste artigo disse: "De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação".

Refutação: 1.Davi não cometeu suicídio. 2. Davi não estava na era da graça. 3. Davi não experimentou o que os crentes de hoje experimentam. Logo, usar Davi para justificar o suicídio de um crente é um equívoco.

6. O autor disse: "O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18).
Refutação: O autor esqueceu alguns textos bíblicos como, por exemplo: "Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus. Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: "A mim pertence a vingança; eu retribuirei"; e outra vez: "O Senhor julgará o seu povo". Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!"
Hebreus 10:26-31. Este texto deixa claros que se um cristão continuar a pecar deliberadamente o que lhe resta é juízo. A Bíblia diz: "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento. 2 Pedro 3:9. Este texto diz que se o crente não se arrepender perecerá. Neste contexto a carta também foi escrita para crentes. Deus é paciente e não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.

Posto isso, eu entendo que não existe texto bíblico que justifique o suicídio de um cristão ou que dê a ideia que um crente que cometa suicídio não perca a salvação. Pelo contrário, se homens de Deus no passado como Moisés, Jó, Elias e Jeremias tiveram vontade de morrer e não tiraram a própria vida, isto serve de exemplo para nós hoje. Estes homens desejaram a morte, mas não tiraram as suas vidas. Como diz Tiago "eram humanos como nós" Tg. 5.17. Paulo diz: "Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança". Romanos 15:4. Isto é, tudo que foi escrito serve de ensino para nós. A Bíblia nos ensina que homens de Deus no passado não tiraram as suas vidas apesar de desejarem a morte. É isso que temos que aprender. É isso que temos que praticar. É isso que a Bíblia deixa bem claro para nós. E se Deus quisesse ou permitisse que estes homens tirassem as suas vidas, Ele não teria instruído estes homens em suas crises para livrá-los da mesma. Se os homens de Deus no passado não tiraram as suas vidas, será que os crentes de hoje que desfrutam de uma experiência profunda com a graça de Deus fariam? Eu creio que não. Pelo menos não é isso que a Bíblia ensina e deixa de exemplo para nós.
Renato Corumbá.