quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Existe Realmente Livre-arbítrio?


Existe realmente Livre-arbítrio?

A base histórica para o livre-arbítrio de Adão

Se alguém tem dúvidas de que o Livre-arbítrio era defendido pelos Pais da Igreja, segue abaixo os comentários dos mesmos.


"A origem do pecado a partir de uma decisão livre e autodeterminada de Adão (e de
 lúcifer, antes dele) tem sido uma marca do pensamento cristão desde os primórdios da igreja. As citações a seguir são uma amostragem com objetivo de ilustrar este tópico".

Justino Mártir (c. 100-c. 165d.C.)

Deus, desejando que tanto homens quanto anjos seguissem a sua vontade, resolveu criados livres para fazer a justiça. Mas se a Palavra de Deus prediz que certos anjos e certos homens serão certamente castigados, ela fez isso porque sabia previamente que eles seriam irremediavelmente [ímpios], mas não por terem sido criados assim. (DJ, 1.142)

Irineu (c. 125-c. 202 D.C.)

Esta expressão: “Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (MT 23.37), lançou as bases da antiga lei da liberdade humana, porque Deus fez o homem (agente) livre desde o principio, possuindo uma alma própria para obedecer aos mandamentos de Deus de maneira voluntaria, e não por compulsão da parte de Deus. Pois não existe nenhum tipo de coação em Deus, somente uma boa vontade [para conosco] esta presente continuamente nele. (AH, 1.4.36.8)

Atenágoras (falecido no século II)

Tal qual acontece com os homens que tem liberdade de escolha tanto para a virtude,
 quanto para o vicio (pois não honraríamos o bem, nem castigaríamos o mal; se estas duas coisas não fossem do nosso domínio, e alguns são diligentes nas questões que lhes são confiadas, já outros infiéis), o mesmo se da com os anjos. (PC, 11.24).

Teófilo (c. 130-190d.C.)

Pois Deus criou o homem livre, e com poder sobre si mesmo [...] Deus agora lhe concede como dom, por intermédio da sua própria filantropia e piedade, quando o homem lhe obedece. Pois da mesma forma que o homem trouxe a morte sobre si mesmo ao desobedecer a vontade de Deus, aquele que desejar pode alcançar para si a vida eterna.
 (TA, 11.27)

Táciano (120-173 D.C.)

O nosso livre-arbítrio nos destruiu; nos que éramos livres acabamos por nos tornar
 escravos; fomos vendidos por intermédio do pecado. Nada de mal foi criado por Deus;
 nos mesmos manifestamos a impiedade; mas nos, que a manifestamos, também somos capazes de rejeita-la. (ATG, 11.11)

Bardesanes (c. 154-222 d.C.)

Por que será que Deus não nos fez sem a possibilidade de pecar e cair em condenação?
 Se o homem tivesse sido assim criado, ele não teria pertencido a si mesmo, mas o seu
 instrumento e que o movimentaria [...] E como, neste caso, um homem se diferenciaria De uma harpa, que e tocada por outra pessoa; ou de um navio, que também e guiado por outra pessoa: nos quais os elogios ou a culpa residem nas mãos do musico ou do timoneiro [...] sendo que estas coisas não passam de instrumentos feitos para o uso daqueles que tem a habilidade de utiliza-los? (E, VII)

Clemente de Alexandria ( 150-c. 215 d. C.)

Nos que ouvimos pelas Sagradas Escrituras que a escolha autodeterminada e a
 recusa foram dadas pelo Senhor aos homens, descansamos no critério infalível da Fe,
 manifestando um espírito desejoso, já que escolhemos a vida e cremos em Deus por
 intermédio da sua voz. (S, II.2.4)

Tertuliano (c. 155-c. 225 d. C.)

Percebo, portanto, que o homem foi constituído livre por Deus, senhor da sua própria
 vontade e poder; sendo que nada indica tão bem a presença da imagem e semelhança de Deus nele, quanto este traço de constituição da sua natureza [...] Portanto, tanto a bondade quanto o proposito de Deus são descobertos no dom recebido da liberdade da sua vontade. (FBAM, III.2.5)

Novaciano (c. 200-c. 258 d: C.)

Ele também colocou o homem como o cabeça deste mundo, e o homem, igualmente,
 feito a imagem de Deus, a quem ele comunicou a mente, a razão e a antevisão, de forma que ele pudesse imitar a Deus [...] E quando ele deu a ele todas as coisas para o seu serviço, Ele desejou que somente ele fosse livre. E, repito, para que uma liberdade assim ilimitada não fosse ameaçada, Ele passou um mandamento, no qual o homem foi instruído que não havia mal algum no fruto da arvore; porem foi previamente alertado de que o mal surgiria se o homem insistisse em exercer a sua livre-escolha em conflito com a lei que lhe fora passada. (CT, V.l)

Orígenes (c. 185-c. 254 d.C.)

Isto também esta claramente definido nos ensinamentos da igreja: que toda alma
 racional possui livre-arbítrio e volição (DP, IV, prefacio). “Existem, na verdade, inúmeras passagens nas Sagradas Escrituras que estabelecem com excessiva clareza a existência da liberdade da vontade, (ibid., IV.3.1)

Metódio (c. 260-311 d.C.)

Agora aqueles que decidem que o homem não possui livre-arbítrio e afirmam que
 ele e governado pelas necessidades inevitáveis do destino [...] são culpados de impiedade para com o próprio Deus, fazendo dele o causador e o autor dos males humanos. (BTV, VI.8.16)

Declaro que o homem foi criado com livre-arbítrio, não no sentido de que já houvesse
 algum tipo de mal, sobre o qual ele teria o poder de decidir ou não a sua aceitação [...] mas no sentido de um poder de obedecer e desobedecer a Deus como a única causa. (CFW, 362)

Cirilo de Jerusalém (c. 315-C.387 d.C.)

Sabe também que tu tens uma alma autogovernada, a mais nobre das obras de Deus, feita segundo a imagem do seu Criador, imortal por causa do Deus que da a imortalidade, um ser vivo racional e imperecível, por causa daquele que concedeu estes dons: com livre poder para fazer o que ela quiser. (CL, II.VII.IV.18)

Gregário de Nissa (c. 335-c. 395 d. C.)

Como imagem e semelhança [...] do Poder que governa sobre todas as coisas, o
 homem guardou também no tema do livre-arbítrio esta semelhança com aquele cuja
 vontade e sobre tudo. (OV, II. V. 12)

Jerônimo (c. 340-420 d. C.)

Em vão me deturpas e tentas convencer os ignorantes que eu condeno o livre-arbítrio.
 Que aquele que condena, seja por si mesmo condenado, pois fomos criados com o dom
 do livre-arbítrio [...] E verdade que a liberdade da vontade traz consigo a liberdade de
 decisão. Contudo o homem não age imediatamente a partir do seu livre-arbítrio, mas
 precisa da ajuda de Deus, que e o único que não precisa ser ajudado. (LSJ, II.VI. 1.33.10)

João Crisóstomo (347-407 d. C.)

Deus, por ter colocado tanto o bem, quanto o mal sob o nosso poder, nos deu plena
 liberdade de escolha; ele não segura para si ninguém contra a sua vontade, mas abraça todos os que voluntariamente o recebem. (HG, 19.1)

Tudo esta debaixo do poder de Deus, mas de forma que o nosso livre-arbítrio não é perdido [...] Ele depende, portanto, de nos e dele. Precisamos primeiramente escolher o bem, e Ele, depois, acrescenta o que a Ele pertence. Ele não se sobrepõe a nossa vontade, para que o nosso livre-arbítrio não seja ofendido. Mas quando tomamos a decisão, ele nos presta um grande auxílio [...] É nossa parte o escolher previamente e o desejar, e é parte de Deus o aperfeiçoar e o completar a obra.

Agostinho Anterior (354-430 d. C.)

O livre-arbítrio, naturalmente concedido pelo Criador a nossa alma racional, é uma forca tão neutra, que pode tanto se inclinar em direção a Fé, quanto a incredulidade (OSL, 58).
 Na verdade, o pecado e de tal maneira um mal voluntario, que não seria pecado caso não fosse voluntario. (OTR, 14) Ou, então, apropria vontade e a primeira causa do pecado, ou a primeira causa e sem pecado. (OGFW, 3.49)

Agostinho, ainda, acrescentou:

O pecado não esta em lugar algum que não seja a vontade, e como esta consideração
 também teria me ajudado, que a justiça considera culpados aqueles que pecam somente
 por vontade maligna, apesar deles não terem conseguido realizar o que desejavam.
 (TSAM, 10.12)

Todo aquele que, também, faz algo contra a sua vontade e forcado a fazer isto, e todo
 aquele que e forcado, se fizer algo, o faz contra a sua vontade. Conclui-se que todo aquele que tem vontade de fazer algo, esta livre de qualquer coação, mesmo que se possa pensar que ele e forcado a fazer tal coisa, (ibid., 10.14)

Anselmo (1033-1109d.C.)

Ninguém abandona a retidão se não desejar fazer isto. Se “contrario a nossa vontade”
 significar “não querer fazer,” então ninguém abandona a retidão contra a sua própria
 vontade [...] Mas um homem não pode desejar contra o seu desejo porque não pode desejar sem querer desejar. Por todo aquele que deseja, o faz por vontade própria. (TFE, 130)

Apesar deles [Adão e Eva] terem se entregado a si mesmos ao pecado, eles não conseguiram abolir neles mesmos a sua liberdade natural de escolha. Todavia, eles poderiam alterar o seu estado de tal maneira que não foram capazes de utilizar esta liberdade, salvo por uma graça diferente daquela que tinham antes da Queda, (ibid., 125)

Não devemos dizer que eles [Adão e Eva] tinham liberdade para o propósito de receber,
 de uma parte que lhes concedesse, a retidão que não possuíam, porque precisamos crer
 que eles foram criados com vontades retas — apesar de não podermos negar que eles
 tinham a liberdade de receber novamente esta mesma retidão, caso viessem a abandona La e a recebessem novamente daquele que originalmente a concedeu, (ibid., 126)

Não percebes que a partir destas considerações se conclui que nenhuma tentação e capaz de conquistar uma vontade reta? Pois, se a tentação pudesse conquistar a vontade, seria pelo seu próprio poder de conquista-la. Só que a tentação e incapaz disso, porque a vontade somente pode ser subjugada pelo seu próprio poder, (ibid., 132)

Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.)

A necessidade vem do agente quando este ultimo coage de tal forma algo que este algo não lhe pode mais contrariar [...] Tal necessidade por coação e contraria a vontade. [Assim,] uma coisa não pode ser absolutamente coagida ou imposta com violência e, simultaneamente ser voluntaria [...] Consequentemente o homem toma decisões de forma não necessária, mas de forma livre, (in Clark, AR, 291-92)

Portanto, o homem tem liberdade de escolha, de outro modo, todos os conselhos, exortações, preceitos, proibições, recompensas e castigos seriam sem sentido.
 Consequentemente, uma livre decisão deixa intacto o poder de ser capaz de optar por
 outro caminho, (ibid., 259)

Com exceção do Agostinho “posterior”, esta visão de livre-arbítrio autodeterminado foi, praticamente, a visão unanime dos Pais Eclesiásticos ate o tempo da Reforma e, com exceção de Calvino e Lutero, ela continuou sendo a visão consistente desde a época da
 Reforma.

OBS:

João Calvino (1509-1564)

Opôs-se conscientemente a Crisóstomo e ao restante dos Pais da Igreja ao declarar: “Precisamos, portanto, repudiar o sentimento de Crisóstomo comumente repetido de que ‘Aqueles que ele atrai, o faz a partir da vontade deles’; o qual insinua que o Senhor somente estende a sua mão, e aguarda para ver se estaremos felizes em aceitar a sua ajuda. Admitimos que, da forma como foi originalmente constituído, o homem poderia ter se inclinado para ambos os lados, mas com o ele nos ensinou, por seu exemplo, quão miserável é o livre-arbítrio quando Deus não opera em nós o desejo de fazer algo, que utilidade teria um a graça comunicada em medida tão ínfima?” (ÍCR, 1.2.3.10,260-61, grifo acrescentado).

CONCLUSÃO

A origem do mal é um problema para qualquer cosmovisão, mas este problema se
 torna particularmente agudo no Teísmo, pois este precisa explicar como o mal surgiu, se
 tudo o que Deus criou era perfeitamente bom. A resposta esta em um dos dons divinos:
 o livre-arbítrio. Apesar de a liberdade ser boa em si mesma, ela também proporcionou o
 potencial para fazermos o mal. Assim, o livre-arbítrio tornou possível o mal.

Porém, apesar de Deus ser responsável pela liberdade (o qual tornou possível o surgimento do mal), as criaturas livres são, por si mesmas (por exemplo, Lúcifer e Adão), responsáveis pelos seus atos de liberdade (os quais tornam o mal algo real). Deus deu a elas o poder de escolher, e em vez de escolher obedecer a Deus e seguir o bem, elas desobedeceram e utilizaram a liberdade de escolha para dar vazão ao pecado. Como vemos, o mal surgiu do livre-arbítrio das boas criaturas que Deus havia criado.

Fonte: Teologia Sistemática de Norman Geisler Volume 2 (pag. 77-81)